sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Grito



"Porque há o direito ao grito. Então eu grito." (Clarice Lispector)


 E quem sabe assim eu ecoe. E quem sabe assim eu ruborize meu rosto dando cor a minha pálida pele - minha pálida vida. Talvez, daqui do meu deserto, eu possa ser lembrada e, se não por imagem, quem sabe por som. Um trovão rasgando o céu no meio do nada. Tudo menos continuar na apatia deste silêncio de alma. E, assim, eu grito, grito. E que eu perca as forças gritando. E que eu desfaleça gritando. E quem sabe assim, finalmente, eu consiga ouvir minha própria voz.
 Keila Freitas

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

domingo, 19 de agosto de 2012

Escolhas. Caminhos. Mudanças.

"Se alguma coisa mudou???
Sim, tudo.
E esse foi o preço a ser pago pelo que chamamos de escolha."
Reflexivamente,
Keila Freitas. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Sobre Ogros e Cebolas


Odeio gosto de cebola. Odeio cheiro de cebola. Odeio o barulho que a cebola faz quando é mastigada. Ou seja, definitivamente, odeio cebola com todas as forças gastronômicas do mundo.

Contudo, foi assistindo ao filme Shrek (filme norte-americano de 2001, do gênero animação computadorizada) que aprendi a apreciar (de longe!) essa tal planta hortense.

Simples. No filme citado há um breve diálogo entre o protagonista e seu mais novo amigo burro. Nessa conversa, Shrek compara os ogros às cebolas e, sem maiores explicações, nos deixa a pensar e pensar e pensar. Cebolas, Shrek?!? Sim, cebolas. Cebolas e suas múltiplas camadas. E, em cada camada, um sentimento, uma virtude, uma verdade escondida. Por fora, o cheiro, o aspecto e a fama de fazer chorar. Por dentro, a beleza oculta à olhos nus. Talvez para proteger-se, talvez para proteger. 

O fato é que, mesmo depois de tudo isso, continuo a odiar o gosto das cebolas mas, confesso, meus olhos já não as veem da mesma forma. Coisas de uma princesa que tem suas muitas camadas escondidas.

Princesogramente,
Keila Freitas

 
"Shrek: Pra sua informação, há mais do que se imagina nos ogros.
Burro: Exemplo?
Shrek: Exemplo? Ok… Ah… Nós somos como cebolas.
Burro: Fedem?
Shrek: Sim. Não!
Burro: Oh. Fazem você chorar?
Shrek: Não.
Burro: Oh, deixa eles no sol e eles ficam marrons e soltam aqueles cabelinhos…
Shrek: Não! Camadas! As cebolas têm camadas, os ogros têm camadas. A cebola tem camadas, entendeu? Nós dois temos camadas.
Burro: Oh, vocês dois têm camadas. Oh, sabe, nem todo mundo gosta de cebolas... Bolo! Todo mundo adora bolo! E tem camadas...
Shrek: Eu não ligo para o que todo mundo gosta! Ogros não são como bolos!
Burro: Sabe do que todo mundo gosta? Pavê! Já conheceu alguém que você falasse 'Ei, vamos comer pavê?' e ele dissesse 'Céus, não gosto de pavê'? Pavê é delicioso!
Shrek: Não! Sua besta ambulante de irritação constante! Os ogros são como cebola! Fim da história, bye-bye, tchauzinho."

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Coração de marimba



Quando criança eu aprendi a soltar pipa. Sei que essa não é uma brincadeira muito comum à meninas mas nunca me importei com rótulos e limites impostos do tipo "coisas de menino e coisas de menina". Brinquei de boneca, joguei bolinhas de gude, fazia comidinha no quintal, construía caminhos no chão pra dar "petelecos" em tampinhas de refrigerantes, costurava roupinha para minhas bonecas e até colecionava miniaturas de carrinhos com minha irmã mais velha - e, aproveitando a oportunidade, confesso aqui uma dor que me persegue desde a infância: os carrinhos de todos os anos, tipos, cores e especialidades foram um a um sendo destruídos pelo meu irmão caçula em suas brincadeiras e lançamentos e quedas e corridas e aff, não sobrou nenhum pra contar provar essa história (que saudade da miniatura do meu fusquinha branco!). Foi uma infância completa. Infância de muitos livros - por vezes doados pelos antigos chefes de meu pai. Infância de muito pique-pega-alto-bandeira-esconde-cola-estátua e tantos outros.

Mas, de todas as brincadeiras, existe uma que até hoje eu me encanto: soltar pipa. Momento mágico em que se colore o céu com papel, linha e rabiola. Costuma brincar com minha irmã e, depois dela crescida, com meu irmão mais novo - o tal dos carrinhos destruídos. Meu pai nunca gostou de nenhum de nós brincando com pipas. Lembro que até a mamãe nos ajudava a esconder toda a parafernália; era linha embaixo da cama, rabiolas  atrás de tábuas de madeiras, pipas no terraço da casa e onde mais pudéssemos esconder nosso "pássaro de papel" das mãos furiosas de papai. Mamãe nos acobertava mas exigia que brincássemos na imensidão do nosso quintal ou no terraço. Era maravilhoso "dar linha", "debicar", "cortar" e "avoar". E, em cada pipa avoada o desejo de ir correndo atrás da mesma até que ela resolvesse baixar a tal ponto que pudéssemos resgatá-la. Nem sempre ela, a pipa, facilitava nossa vida de criança. A danada - só pra implicar - se metia a ficar enroscada no alto de árvores, em galhos nada amistosos, na ponta de casas, arames... As vezes, varas de bambu davam conta do recado. Mas, na maioria das vezes, a soma de linha e pedra eram a chave para o resgate: marimba. Não sei se é assim que a chamam em outros lugares mas foi assim que aprendi. A linha amarrada a uma pequena pedra era o objeto perfeito para "laçar" a pipa fujona. Marimba.


A infância se foi - bem, já dizia Lispector "nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais", mas, lembro saudosa daquele tempo, daquela brincadeira. Hoje, as brincadeiras são outras. Brincar de trabalhar, estudar para ter um futuro pois o presente não é o suficiente, correr para não se atrasar, fazer comidinha de verdade, brincar de ser dona-de-casa, ser chefe de família. É tanta coisa que as vezes não há tempo de brincar de ser feliz. As relações de afeto tão puras e inocentes deram lugar as amizades por conveniência. Amizades online sem toque e sem olhos nos olhos. E os amores?! Ah, os amores... Os amores dos bilhetinhos, dos segredinhos, da bochecha rosada. Que saudade desses amores pueris...

Os amores hoje deveriam ser como a brincadeira de soltar pipa. E, mesmo a comparação talvez sendo absurda, esta deveria ser algo a se pensar.

Pipas somos nós, homens e mulheres. Pipas são pessoas comuns como eu e você e toda a liberdade referenciada no céu que está sobre nossas cabeças, sempre a vista dos nossos olhos. Pipas e pessoas tem seus sonhos feitos de papel de seda - delicados, sensíveis, frágeis. A linha da pipa, que nos deixa com os "pés no chão", penso eu, melhor compará-la a realidade. Somo nós nos controle de nós mesmos no céu, no tempo, no espaço, na imensidão da vida e seus anseios de alçar voos cada vez mais altos. Pipas desenham no ar a felicidade. Pipas bailam no céu com seus rasantes e movimentos distintos. Pessoas são como pipas todos os dias. Pessoas são pipas ao vento. Pipas são pessoas ao vento.

A beleza construída pelas mãos do homem na imensidão de Deus. Pipas, todavia, se perdem algumas vezes com a mesma facilidade que encantam os olhos de quem a admiram. Na brincadeira de criança, há quem goste de cortar a linha de outras pipas e há quem use uma linha tão frágil, tão frágil, que no menor descuido essa linha se arrebenta e se perde aos prazeres de onde o vento a levar. Assim, uma vez essa essa pipa "estancada" e sem rumo, sabe-se lá onde e nas mãos de quem vai parar. Como crianças nos colocamos com nossas marimbas feitas não de pedra mas de nossos corações. Sim, amarramos nosso coração com uma linha resistente e está pronta uma marimba de coração. Pipa voada, a gente correndo atrás e a danada sem rumo. Mas não se preocupe: ela sabe que logo será resgatada. E será como um troféu nas mãos de quem apanhá-la. A trajetória sem norte pode lhe causar danos que necessitará de cuidados específicos. Mas, quem corre atrás, sabe dos riscos e das obrigações que a "brincadeira" traz para si e para o outro. E, não importa a altura, a dificuldade, os defeitos. Uma vez o coração lançado naquela marimba, o resgate trará vida nova para os dois lados. E, a deliciosa obrigação de divertir-se, ser feliz e viver deixa finalmente de ser uma tarefa solitária.




 Saudosamente,
menina Keila Freitas





domingo, 5 de agosto de 2012

Escuridão

"Sei que a vida por vezes é total escuridão. Mas não é na escuridão que brincamos de cabra-cega?"

Puerilmente,
Keila Freitas

segunda-feira, 30 de julho de 2012

domingo, 29 de julho de 2012

Clarice = Haia = Vida

Inspiração. Definição exata de Clarice Lispector para essa ínfima reles aprendiz de escritora.

Nascida na Ucrânia em 1920. Naturalizada brasileira em 1943. Escreveu para o mundo, digo, encantou o mundo, até a sua morte em 1977.

Haia era seu nome de batismo. Vida era seu significado. Mas foi como Clarice - nome que recebeu aqui no Brasil - que se fez referência no tempo e espaço literário.

A bacharel em Direito que nunca advogou foi jornalista com maestria. Colunista com intenso ardor de alma.

Se foi, mas deixou toda uma obra  a ser apreciada, amada, odiada e devorada.

Não se espante em ver algumas muitas frases, textos, pensamentos dessa musa inspiradora das linhas e entrelinhas no Princesa Ogra. Espero apenas que você aprecie tanto quanto eu. E, sendo assim, boa leitura e fique com Haia Clarice Lispector:

“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
       O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”

Nasceu!!!

Eis aí o nascimento do Princesa Ogra, um blog pretensiosamente despretensioso onde espero apenas que não esperem muito. Não escrevo Lispector, Medeiros ou Coelho. Escrevo com lápis e papel de pão. Rabisco sonhos, compartilho o cotidiano e reflito o porvir. Não há entrelinhas - embora elas sempre existirão. Não há imersões para se descobrir o sentido da vida  - embora as palavras possam alcançar lugares inatingíveis. Princesa Ogra não é uma página qualquer mas, sim, uma página dentre muitas nesse mundo. É a página da minha vida. Esquisita. Inconstante. Intensa. Feliz. Melancólica. Mas sempre, sempre, autêntica.

Keila Freitas


Agora vai...

     
 
 "E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar." 
(Clarice Lispector)